sábado, 26 de novembro de 2011

Essa foi a gota d’água

"Antes de começarem a ler, é importante que saibam que nós do Pibid além de ter como objetivo incentivar o educação e ciência, temos támbem o intuito de informar a realidade dos acontecimentos que influenciam a sociedade em geral, é importante conhecer os fatos. A ciência busca a verdade e respostas, com o cuidado de não infectar a qualidade das descobertas, sem deixar o caráter  crítico de lado."

Olha. Sou preconceituoso. Não confio na Rede Globo. Não sou mais criança, tenho cérebro, tenho opinião própria, sou crítico e cético. Não me deixo enganar tão fácil. E a Globo quer enganar a gente. O tempo todo. Não acredito neles, não confio neles, quase nem assisto eles. Sei quem eles são e o que fazem apenas porque é importante saber das atitudes do inimigo. Acompanho os passos deles para descobrir suas ardilosas estratégias. E, olha, não é difícil descobrir o que eles querem. Só não vê quem não quer.
Eles manipulam. Eles enfiam a opinião dos donos no meio das “notícias” que apresentam, eles noticiam tudo de maneira parcial, para levar o espectador a pensar da maneira que eles querem. Eles criam estereótipos em suas novelas, e ainda tentam nos convencer de que estão abordando temas importantes. Eles acabam com a carreira de esportistas, eles monopolizam transmissões de eventos, eles interferem nas eleições (ou pelo menos tentam), eles mentem. Eles mentem muito. Eles só mentem.
Por isso, tenho um pé atrás com aquela gente. Então, tudo que seja feito pela Globo, ou apresentado pela Globo, ou noticiado pela Globo, ou produzido pela Globo, ou divulgado pela Globo, ou que remotamente me lembre da Globo fará acender em mim uma luzinha piscante de “perigo”.
Aí que agora começou a circular pela internet um vídeo de um tal “Movimento Gota D’água”, com dezenove atores da Rede Globo explicando didaticamente (ou não) os motivos pelos quais os internautas devem assinar uma petição contra a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. O nome da Globo não aparece. Aliás, nenhuma referência à Globo é feita, motivo pelo qual muitos acreditam que seja uma iniciativa do próprio grupo de atores. Eu sou cético. Vou chamar de “vídeo da Globo contra Belo Monte” mesmo que não seja, só pra irritar. Ainda que não tenha sido produzido, filmado, financiado ou incentivado pela Rede Globo, os atores (todos de algum canal da Rede Globo, nenhum de outra empresa) estão tomando a frente de uma campanha que traduz as opiniões dos seus patrões, o que pode ser visto na campanha velada contra Belo Monte que a Globo tem feito nos seus programas jornalísticos há muito tempo. Por isso, fiquei com os dois pés atrás antes de clicar no “play”.
Nada contra ecologistas, nada contra quem é contra Belo Monte, nada contra quem é a favor de Belo Monte. O que eu não gosto é de mentira, o que eu não gosto é de manipulação. Sou contra uma emissora tentar convencer uma população inteira das opiniões dos seus donos. Sou contra uma emissora passar opiniões ao invés de notícias, ao invés de fatos, ao invés de verdades. Sou a favor de uma emissora passar ao espectador um panorama real do que acontece e deixar que ele forme a sua própria opinião. Isso não acontece. No que diz respeito a Belo Monte, isso nunca aconteceu.
E não acontece só com Belo Monte. Toda e qualquer ação do governo é sempre criticada pela Globo, independente do que seja. Óbvio que a função da mídia é questionar, é ajudar o espectador a fiscalizar, é oferecer espaço para discussão, é denunciar escândalos. Mas quando a mídia transforma TUDO em escândalo SEMPRE, tem alguma coisa errada aí. Independente da visão política de cada um, temos que saber que isso é errado. Copa do Mundo, Olimpíada, Enem, ProUni, PAC, tudo na Globo é ruim. Ninguém sabe o significado disso, ninguém sabe por quê, mas se a Globo diz que é ruim, então é. Os empregos gerados na construção dos novos estádios, o retorno financeiro garantido de uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, o aumento no turismo, o lucro dos hotéis, a capacitação de pessoas pra atender turistas na Copa e na Olimpíada, as obras públicas que ficarão para os cidadãos depois dos eventos (a exemplo do metrô em Porto Alegre), o indicador de educação importantíssimo gerado pelo Enem, o percentual mínimo de erro na aplicação de provas do Enem, os milhares de jovens que cursam ensino superior apenas porque ganharam uma bolsa de estudos pelo ProUni, a modernidade que significa uma prova única sendo aplicada e que possibilita ingresso em universidades federais de todo o país, os milhões que saíram da pobreza por causa do PAC e das bolsas esmola que tanto gostam de criticar... Nada disso é lembrado, nada disso é mostrado.
Mas voltemos a Belo Monte. E voltemos a falar sobre o caricato vídeo da Rede Globo (OK, eu sei que não é da Rede Globo, mas eu adoro falar isso, me deixem ser feliz). Ao contrário da esmagadora maioria das pessoas que assistiu ao vídeo, e que julga as informações nele expostas suficientes para criar uma opinião, eu me informei. Eu pesquisei. E, vejam só, os globais mentem. E tentam nos convencer das suas opiniões através da manipulação dos fatos. Aprenderam direitinho. Fátima Bernardes fez escola. 

Vamos aos fatos.
No vídeo, o Eriberto Leão diz que será alagada uma região de 640km². Opa, mentira! O total da área alagada pela construção da Belo Monte será de 516km², segundo informações que encontrei no site da Aneel (listei todas as fontes no final do post). Pois corrijamos o dado equivocado deles e reflitamos: o que são 516km²? Isso é grande ou pequeno? Isso é muito ou pouco? Para saber isso, temos que fazer comparações. Nada melhor do que comparar com o tamanho da Amazônia, que é o que nos interessa. E a parte da Amazônia que fica no Brasil corresponde a 3,5 milhões de km². Com uma regra de três bem rapidinha, descobri que a área alagada corresponde a 0,0147% da parte brasileira da Amazônia (reparem que eu nem estou considerando a parte que pertence a outros países). O impacto ambiental gigantesco alarmado pelos globais é igual a menos de um milésimo da maior floresta tropical do mundo. Minha casa fica sobre um terreno de 300m², um tamanho bastante comum de terrenos. Se a Amazônia fosse do tamanho do meu terreno, a área alagada de Belo Monte equivaleria a um quadradinho de exatamente 21 x 21cm.
Também é exposto no vídeo o custo da obra: R$ 30 bilhões, dos quais R$ 24 bilhões serão pagos através de impostos. Mais uma vez, um dado é lançado pra cima e quem quiser que pegue.  Não é feita uma comparação com o custo da energia gerada ou com a arrecadação total de impostos pelo governo, e nem é dito em quanto tempo esse investimento será pago. Atirar um número enorme na cara do espectador, sem nenhum contexto, é uma artimanha recorrente dos manipuladores. Não me surpreende.
Mas eu vou comparar. Essa inclusão digital é uma merda, qualquer pé rapado como eu agora tem acesso a dados. Achei no site do Correio Braziliense a arrecadação total de impostos de 2010, que foi de R$ 826,05 bilhões. Mais uma regra de três e tchã-rã: o custo de Belo Monte equivale a 2,905% de todos os impostos que pagamos ao longo de um ano. Se isso é pagar muito ou pouco pela terceira maior hidrelétrica do mundo, cada um que decida.
Ainda temos outros dois pontos que são colocados no vídeo: falam sobre o impacto ambiental e criticam o fato de a usina produzir menos que a sua capacidade. Encontrei na minha pesquisa a seguinte explicação: para que a usina gerasse toda a sua capacidade, o tamanho da área alagada teria que ser maior. Então, a eficiência energética foi diminuída justamente no sentido de diminuir o impacto ambiental.
Mais coisinhas interessantes que não foram apresentadas no vídeo porque não convinha a eles: A usina vai operar a fio d'água, ou seja: a geração vai variar de acordo com a quantidade de água do Rio Xingu. Uma vez que a Belo Monte irá integrar o Sistema Interligado Nacional, a energia gerada lá irá contribuir com a expansão da oferta em todo o país. Assim, ó: na cheia do Xingu, muita energia será gerada, e vai dar pra acumular água nos reservatórios de usinas em outras regiões. E, nos períodos de seca no Xingu, todas essas outras usinas com água armazenada serão capazes de suprir a diferença da menor geração na Belo Monte. Isso significa que vai dar pra gerar um monte de energia com um impacto ambiental baixíssimo.
E o que será feito dos índios? E o que será feito das populações ribeirinhas? A Maitê Proença coloca “é muita pergunta sem resposta”. Para você, cara Maitê. Pra mim as perguntas têm resposta. “Eu pesquisei”, diz a Maitê no vídeo. Pesquisou onde, Maitê? Onde eu pesquisei tinha mais informações, viu? Informações estas que dão conta de que nenhuma área indígena será alagada pela construção de Belo Monte e que nenhum povo indígena da região será removido. Sabe quem disse isso, mais de uma vez? O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira. Mas se alguém preferir acreditar na Maitê, a informada...
O que eu citei nos parágrafos acima foram os principais pontos abordados pelos dezenove globais. Só isso foi dito, em pinceladas rápidas. Absolutamente carente de dados. Para preencher os mais de cinco minutos de vídeo, usaram de repetição de idéias (“TRINTA BILHÕES” foi falado umas trezentas e quinze vezes, por exemplo) e muita, mas MUITA babaquice. Muita bobagem. Dá pra rir bastante. Assisti mais de uma vez, por gosto. Bobagens como:
“De onde tiraram essa ideia de que hidrelétrica é energia limpa?" - De fato, não é. Já viram a quantidade de fumaça que sai das hidrelétricas? A queima da água polui demais. Bom mesmo é o carvão.
“É possível criar outras alternativas pra se gerar energia: energia eólica, energia solar...” – Reclamam do custo da usina hidrelétrica e sugerem energia solar. Coerência mandou um beijo.
“Seria energia limpa se fosse no deserto, mas na floresta?” – Que ótima idéia, Sabatella. Uma hidrelétrica no deserto, que é tão abundante em água. Ou movida a areia, quem sabe? Como ninguém pensou nisso antes? E no Brasil faz ainda mais sentido, com a quantidade enorme de desertos que temos aqui. Será que o sertão nordestino serve? Espremeremos os cactos para ver se sai água.
"O meu, o seu dinheiro, pra uma obra dessa proporção, e ninguém vai discutir o assunto?" Não, realmente, ninguém discutiu. Decidiram ontem que iriam construir.
"Sabe aquela sensação que você tem de se arrepender de uma coisa que você não fez? Que a gente diz que não se arrepende, mas depois a gente se arrepende..." - tocou fundo no meu coração essa. Arrepiei. Vou colar no Facebook.
O ponto alto do vídeo, na minha opinião, é o momento em que a Maitê Proença tira a blusa. Pra quem não viu, prepare-se para as cenas fortes. Essa atitude da Maitê representa muito bem o alto nível intelectual do vídeo, da campanha toda e da própria atriz. Ao invés de apresentar dados concretos, reais e confiáveis, de apresentar fontes (essa idiotice toda que eu fiz aqui), ela tira o sutiã. Achei coerente nesse ponto.
Vamos falar sério agora. Belo Monte não vai acabar com a Amazônia, Belo Monte não vai alagar a casa dos índios, Belo Monte não vai ser dinheiro posto fora. Somos donos da maior floresta tropical do mundo, e temos feito uso dos seus recursos da maneira mais irresponsável possível há anos. Pela primeira vez, estamos tirando proveito do potencial da nossa floresta causando a ela um impacto proporcionalmente minúsculo. Esse é o jeito certo de usar o que a Amazônia tem a nos oferecer. Não estamos fazendo nada contra a Amazônia ou contra o Brasil construindo a Hidrelétrica de Belo Monte. Contra o Brasil é uma campanha mentirosa baseada em interesses que busca apoio da população através da desinformação e da baixaria. Isso é contra o Brasil.

Fonte: http://palavras-diretas.blogspot.com/2011/11/olha.html#.TskWM0cUKww.email

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